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Arquitetos: Luís Peixoto
- Área: 249 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:Arménio Teixeira
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Fabricantes: AutoDesk, CS Coelho da Silva, Cortizo, Doerken, Recer, Sanindusa, Sanitana, Velux
Descrição enviada pela equipe de projeto. A Casa em Amares resulta da reabilitação e ampliação de uma antiga casa rural proveniente do século XVIII, situada numa zona residencial de baixa densidade, intercalada por terrenos agrícolas e florestais, próxima da Serra do Gerês. Os principais desafios resultaram da necessidade de adaptar a construção existente às exigências e aos padrões do habitar contemporâneo, sem com isso comprometer a coerência compositiva e temporal do conjunto. A proposta divide-se em dois volumes, sendo a expressão autónoma de cada um, o resultado da sua circunstância temporal específica. Essa dualidade traduz-se também ao nível funcional, através de conceções distintas do espaço doméstico que coexistem e se articulam num mesmo conjunto.
O volume de entrada na habitação coincide com a casa original, cuja imagem exterior, a estrutura e o sistema de distribuição foram essencialmente mantidos, incluindo a entrada principal, feita tradicionalmente através da cozinha, enquanto espaço central da vida doméstica rural. As características da casa antiga favorecem um ambiente de abrigo e intimidade, devido à sua construção tradicional e pragmática, caracterizada por dispor de compartimentos restritos, muros espessos e vãos reduzidos que condicionam a entrada da luz natural, acomodando funções básicas intemporais, tais como cozinhar e tomar as refeições, cuidado íntimo e repouso.
Ao contrário do que sucede na casa antiga, o novo volume configura um open-space, fortemente iluminado e exposto à paisagem, mais propenso à contemplação do exterior do que à interioridade da vida doméstica, distinguindo-se também dos restantes espaços pela sua amplitude e flexibilidade de uso. Por outro lado, enquanto a casa antiga assenta diretamente no terreno, o novo volume é elevado sobre pilares de betão e pousado sobre uma viga reutilizada de um acrescento anterior.
A ampliação da casa original toma a forma de um volume em betão aparente, com um vão inteiramente voltado para a paisagem que se estende em toda a sua largura, transportando-a para o interior. A linguagem da construção nova reinterpreta, assim, a lógica construtiva dos espigueiros tradicionais do norte de Portugal, reforçando esta relação através do uso de ripado nas portadas de madeira vermelhas que caracterizam a fachada nascente.
Apesar de assumir uma espacialidade, uma linguagem e um sistema construtivo modernos, o novo volume não deixa de estabelecer relações com as tradições locais, do mesmo modo que, num sentido inverso, a casa antiga é adaptada para responder às necessidades do habitar contemporâneo. A estratégia de projeto assentou assim num jogo de confronto e de diálogo entre espacialidades, materiais e formas provenientes de tempos distintos, procurando superar a oposição entre tradição e inovação, e perseguindo uma harmonia dentro do seu contexto e, em simultâneo, trabalhando para a sua revitalização.